quinta-feira, 20 de março de 2008

ALELUIA

Como posso provar o gosto do nada, se o nada é o peso secreto da consciência?Seria como lambuzar os lábios com os pensamentos mais íntimos. Assegurar-se que eles pela segunda vez entrassem em meu corpo. Tentativa de regresso, opção de medo.
Preparei o meu itinerário numa viagem sem escalas, contida e absorvida por toda reflexão. Minha máxima é meu pão diário, por Deus abençoado e sacrificado por vivo perdão.
A douçura condenável de repousar o corpo no final da tarde é a recompensa da noite. O presente-futuro de prender-se no mesmo instante do que foi passado e ainda não passou. Esse é o fardo do neutro, do puro, do claro, do sagrado, do que cai de joelhos e pede perdão, da sexta-feira santa surgindo no término da semana como qualquer outro dia de santo ou feriado do tipo.É sentar em nuvens... andar lado a lado com o dizível preso na garganta e promovê-lo com astucia de leopardos.

O que significa um santuário?

Ao meu lado, um sutra pouco consultado. Já todo repleto de pedra em suas folhas duras, pois não pode com o desmoronamento da última tempestade.
Carvalho que apodrece não brota de novo!
Em minha última escavação descobri a madeira da cruz. E só a força dessa descoberta me garantiu os pregos do enterro.

ALELUIA! depois já é domingo.
Regozijo. E sei que posso ser punida por isso.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Tempo Quente

Estou inquerindo meu mais recente obséquio.
Parto de um estado adormecido para despertar num sonho.
Sou um texto sem gramática procurando ortografia.

Devo seguir minha norma padrão para só então ser culta?

Melhor é não ser ilustrada, não ser instruída, não ser civilizada.
É preciso um pouco mais que regras e bem mais que saber segui-las.
É preciso imperícia!

Apostei que hoje seria um dia de flores, e logo me avisam que começava o verão.
São desmaios no alto da tarde e despedidas na beirada da manhã.
Há pouca disponibilidade, quem sabe escondido algum perdão.
E eu aqui, definindo rogos, espreitando suas fendas. Nada me basta quando a tarde é cheia...

Atenua a hora que não chega, o vazio que nunca preenche, a presença que nunca convence.
Tolo! se ainda insistes. Bem sabes que pouco lhe convém.

E era dia de flores, de passos leves, de brisa pouca, de bom cheiro na volta. Era dia de flores!
Atravesso a mesma rua e continua sendo verão.

domingo, 25 de novembro de 2007

Amorico Fumê.

Estou sujeita a um crime passional. Não saberei explicar como cheguei a tal estado deplorável, mas como boa pastora que sou, deixo para que examinem, as circunstâncias. Hoje, dia de presentes e velas, neguei fazer qualquer pedido. Permaneci fumeante como o fogo apagado, desaparecido após o sopro. Também estáva sumida num sumisso brando, quase esperado, um pouco derepente. Mal pude escolher meus convidados, dentro de tanta fumaça.
Sucumbia de paixão e nem mesmo sabia porque. Implorava por vida ou morte. Duelava com pombos e reis.
Avisaram-me, então, que a festa acabou. Desafogo!
Senti leveza por saber que acabara as palmas e ainda me sobrava fôlego. Meu crime era estar ali, presa naquele momento sem pontuação. Presa e solitária como um canário em sua gaiola. Criando um mundo entre grades e ilusões. Cantando os segundos. Espreitando os passos de alguém. Esperando por alguém chegar sem passos.
Não quero libertação nem cantos no meu aniversário. Não quero palmas ou fortes emoções. Não peço mais do que sentir doces segundos que antecedam e perpassam esse mesmo tempo.
Não mais que um momento pleno, de plena paixão

C.G*

domingo, 28 de outubro de 2007

Crônica de Domingo

Tarde de balões e sol próspero. Aquela atenção redobrada que cuida muito mais os grilos no jardim, do que as gaivotas na árvore. Essa luz que não aceita poesia, nem combina com romances. Subtração de inspiração acontece em tardes como essa. Sem capricho ou esculturas em pedra. Uma arte crua, sem acabamentos. Valente muito mais por sua essência. É assim nas tardes de domingo...
Voltas pra casa, visitas aos tios, pensamentos de descanso e pouca indiferença. E eu aqui, tentando tardiamente concertar os erros de outrem e trocá-los por impressões de hoje. Mera ambição dessas tardes de domingo. Quando muito consigo correr átras de uma galinha e arrancar suas penas do rabo, sem conseguir agarrá-la. Demais já é quando ouso disputar barulho com as aves... Ousadia, porque elas sempre vencem com essas suas gargantas em forma de desfiladeiro (isso eu só imagino). Depois vem o cansaço e a rede na varanda, Vento na pele e pensamentos tolos, daqueles que nos fazem rir sozinhos e contorcero dorso. Então é que repousom as borboletas de fim de semana. Estas sempre mais ligeiras e divertidas, parecem sempre quererem estar reanimando as pessoas que se recostam em redes postas nas alturas. Elas devem conter algo de medicinal, é o pó das asas...
E antes que venha a noite, preparo todas as vitrines para o dia que quase vem. Eu programo tudo, usando de escessivo apuro. Procuro nas gavetas algum papel e caneta que sobraram nessas tantas mudanças. Encontro! reviro e projeto... Amanhã minha vitrine será flor de roseira e copo de leite.

domingo, 23 de setembro de 2007

Agora

"Estréias são importantes demais para serem escritas ao acaso"

Dito isso, iniciei a minha estréia.Na verdade não aguardo fins de acaso, sombras de dúvidas encerradas, fichas suspensas.Eventualidade é presente e já passou. Antes crer assim que presumir que o passado nunca deixa de existir.Mas filosofias existênciais não são meu alvo.
É incrédulo o ilusório que desajeito em mim por instantes soltos,instantes de agora. Como prever que a primeira impressão que deixa a primavera será o seu último desejo. Isso é instante: é perceber que estamos, e que estar é transitório demais para se fazer planos.Eu fico com a vontade que cabe as sementes que querem brotar. E a vontade move, assim como a chuva move os grãos de terra pelos valos onde passa.
Se essas palavras representassem uma vontade - como essa que proponho - certamente muitos grãos deslisariam por aqui e formariam montanhas de terra umedecida. Mas não! Elas não repercutem, e até são um tanto pessemistas. Por trás de belezas, sempre oculto está um grande vício.Esse é o meu: o de escrever frases soltas.
(que as novas estações sempre nos tragam as alegrias que deixam no ar os ecos puros das risadas de uma criança.)

C.G*